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Poesias Diversas

 

 

Saudades de Santo Aleixo.

Serra linda! Verdinha como a esperança!

Teus riachos serpeiam pelas matas; e as águas gastam as pedras polindo-as, alisando-as com sua carícia eterna, dia após dias, ano após ano...

Ah! Que música suave é o murmúrio de tuas cascatas saltando de pedra em pedra para depois espraiar-se nas espumas que bailam nas águas tranquilas dos lagos.

Como são frescas as margens onde rochas arredondadas e cobertas de musgos emolduram uma flora rica que cresce na umidade perene à sombra da floresta. Flores rasteirinhas colorem as trilhas dos teus caminhos e, no amanhecer quando o lusco-fusco da aurora ilumina a pequena pérola de orvalho que tremeluz na pétala, uma miríade de cores explode na difração do tênue raio de sol que a atravessa. E esse raio se desmancha num espectro encantado de infinita beleza.

Ah, serra linda!

Quem me dera ter ao teu pé uma choupana! Aí eu traria um amor para me acariciar os cabelos com mão a trigueira da bela morena; uma viola afinada para cantar nas noites de lua cheia, um velho cão que lambesse meus dedos a pedir afagos... Traria também meus melhores amigos para, entre goles de um café cheiroso coado na hora e uma boa fatia de pão fresquinho com a deliciosa manteiga da roça, jogar fora uma conversa boa entremeada de momentos filosóficos e ‘causos’ que acalentam a alma.

Ah, serra linda! Teu teto são estrelas e tua luz é o luar; teu som é o trinado dos passarinhos e teu cantor é o vento! Quem me dera que quando chegasse a hora derradeira em que meu espírito fosse chamado para o além, meu corpo cansado pudesse ser enterrado sob a sombra permanente de tuas árvores para que eu pudesse usufruir de tua beleza por toda a eternidade.

 

 

 

 

 

 

Poema da Superação

 

Passarinho abre a gaiola

E liberta teu coração;

Bate as asas, alça o vôo

Levanta teu corpo do chão!

 

Veja a vida aqui de cima

E o céu tão luminoso,

Olha o lírio lá do brejo

Puro, branco e cheiroso.

 

Vês o rio da cascata

Descendo alegre da serra?

E da semente pequenina

Nascem gigantes da terra!

 

A felicidade existe

Ao teu redor passarinho!

Anda, vem, te eleva aos céus

Procura logo um caminho!

 

Deus já pôs no teu trinado

Belas notas d’um cantar!

Conjugação tão perfeita

Que se faz do verbo amar!

 

Repousa tua cabecinha

Em meu ombro, passarinho!

Encontre no meu abraço

O doce calor do ninho!

 

Também sofri, passarinho

E já fui jogado fora;

Embalde andei aos tropeços

Neste mundo que apavora!

 

Senti também outro amor

Abrindo feridas em mim;

Tive medo que a saudade

Não fosse chegar ao fim!

 

Sonho, e sonho bastante

Sentindo nos meus anelos

Dedos meigos e mui ternos

Afagando-me os cabelos.

 

Afasta a dor, passarinho,

Não quero que fiques triste!

Quero que vivas a vida:

O bem mais belo que existe.

 

Esqueça os redemoinhos

Que brotam na correnteza;

Mira nas águas serenas

O espelho da natureza.

 

Pague ódio com amor

E tristeza co’alegria;

Agradecendo a Deus

Pela luz de um novo dia.

 

Procura sempre a verdade

Viva a vida com paciência;

Nesse encontro com a alma

Residirá toda a ciência.

 

Conta comigo ao teu lado

Co’as minhas mãos estendidas.

Trago meus lábios dispostos

A beijar tuas feridas.

 

O bem se acerca do mal

E a rosa do espinho!

Sem medo, abra a gaiola

Do coração, passarinho.

 

 

 

 

Um novo amanhecer

 

Ah, homem velho, triste e cansado

Levando um fardo que te verga os ombros!

Onde vais arrastando os passos?

Porque o olhar desvairado e morto?

 

A vida não acaba! Recomeça

Todos os dias no brilho da manhã!

Põe de lado a dor e ergue a fronte!

Pisa de uma vez a taça amarga!

 

Tens a felicidade à tua volta

No riso alegre do inocente anjo

Que te aguarda na calçada ou na esquina

Esperando-te para guiar-lhe os passos.

 

Se tu tiveres confiança, o futuro

Será belo e promissor, ventura plena...

Trabalha para isto! Firma a marcha,

Alteia os olhos, levanta a fronte...

 

Há tempo para tudo! Recomeço

Nunca é tardio para a mente sã.

Arranca da tua memória, do passado,

Teus hinos nobres de louvor à vida.

 

 

 

 

 

Pensamentos à beira do Rio do Pico

 

O dia se ergue plácido

O sol me aquece tímido

O tempo torna-se tépido

E sinto Deus mais próximo.

 

Limpo do rosto a lágrima

Da noite que foi efêmera.

E o sonho torna-se êxtase

Trazendo-me a força máxima.

 

Espanto as ideias lúgubres

Sorvendo o amor tão cálido

Que acende na mente a lâmpada

Iluminando-me o cérebro.

 

Não sei como fui tão pérfido

Perdido em uma noite bêbada!

Pensamentos maus, ilógicos

Tornaram-me a vida trágica.

 

Afastei-me dos males crônicos

Que afetam o trato gástrico.

Entregar-me-ei em um cântico

Belo como um salmo bíblico.

 

Adeus ao instinto bélico,

Não quero a consciência gráfica

E nem extrair-me ao fórceps

Da morte, esse ser tão gélido.

 

Embarco na fonte cósmica

Crescendo na força iônica.

Entrego-me na matemática

Da evolução, coisa lógica.

 

Meu canto não é o último

Mesmo na vida prática;

E afastará sonhos mórbidos,

Mostrando-me a fé mais tônica.

 

Que o amor, esperança plástica,

Expulse a solidão estúpida.

Se dor, doerá no estômago.

Se flor, renovará meu íntimo.

 

Estou nesse rio límpido;

Já não sinto mais o látego.

Faço da alma um símbolo,

Tiro o coração do cárcere.

 

 

 

 

 

Cantiga da infância

 

Uma cantiga de versos

Sem inversos,

Pobre, chata e sem rima

Não anima.

É uma casa esburacada,

Abandonada,

Uma grotesca ruína,

Na campina.

 

Hoje um coração sozinho

Sem carinho,

Bombeia um sangue sem cor

Nem amor.

Como louca gargalhada

Engasgada,

Que se confunde no pranto

Do meu canto

 

Noto a saudade comprida,

Tão sofrida,

De um farrapo do passado,

Relembrado

Num palmo de rosto branco

Ou no banco

De uma pracinha modesta...

Numa festa...

 

Eu cantava ao violão,

Meu irmão,

E era noite de luar...

Um lugar,

Um suspiro, um momento,

Um lamento

Que não me sai da lembrança.

Ah, criança!

 

E agora a lembrança é dura,

É escura;

O futuro não é risonho,

Nem um sonho.

Tudo vira pesadelo,

Sem o anelo

Da esperança do depois

P’ra nós dois.

 

E carregado de tristeza

E incerteza,

Vou navegando sem rumo,

Sem aprumo.

Cansado de tantas batalhas

E das falhas

Que se espalham pelo mundo

Tão imundo.

 

 

 

 

A casinha branca do além

 

A casa branca na vida

Que me aguarda após a morte,

Tem trepadeira caída

Junto a avencas da sorte;

Tem alecrim perfumado

E, na frente bem fincado,

Um pinheiro alegre e forte.

 

É o porto seguro e franco

Que vai meu barco atracar;

O fim da viagem, o banco

Onde hei de descansar

Ao deixar meu corpo denso

Para aguardar — contra-senso

— A hora de reencarnar.

 

 

 

 

 

 

Hora da mudança

 

O homem sofre bastante

Com seus erros e misérias;

Ninguém quer passar a vida

Pensando nas coisas sérias.

 

Mas nem tudo é brincadeira

E nem tudo vem na mão;

Viver sempre resmungando

Só causa insatisfação.

 

Quem só repara defeito

Sem jamais ver qualidade

Vê no outro seu espelho

Sem perceber a verdade.

 

Vai reclamar do padeiro,

Do açougueiro, do vizinho,

Dos filhos, do companheiro

Ou das pedras do caminho.

 

E sempre chorar miséria

E achar que tudo é mal.

Será infeliz na vida

Não vivida, afinal.

 

E até mesmo a amizade

Terá os seus desencantos;

Inconformados eternos

Relegados ao seu canto.

 

E chorará o abandono

Por não ter mais ao seu lado

Depois de ficar sozinho

Alguém para ser culpado.

 

 

 

 

 

 

Folhas secas

 

Folhas que caem ao vento

Vem dançando... e dançando

Caem sem nenhum lamento.

 

E o vento que as vai levando,

Brisa suave e pura

Passa o tempo soprando

 

A folha seca, insegura,

Que mesmo morta, talvez,

Beije o vento com ternura.

 

E cai com uma timidez

Até o solo macio

Onde aguarda a sua vez

 

De ser arrastada ao rio

Pelas águas do monte

Que violam o estio;

 

E levam ao horizonte

A pobre folha sem cor,

Como a barca de Caronte

 

Carrega ao Hades da dor

A folha vinda do monte

Que o vento beijou com amor.

 

 

 

 

 

 

 

De novo a casinha branca

 

Um pensamento que sempre me vem

À mente, exato nos momentos

Que em sonho atravesso além:

É a casinha branca pequenina

Que vejo com belo avarandado

Ao olhar do alto da colina.

É bonita, mimosa, interessante...

Acho que em algum tempo do passado

Morei nela, ao menos um instante...

Pois na memória ficou gravado

Aquela casa branca deslumbrante

E verdinho, bem à frente, um gramado...

Ah, sei que quando a vida se apagar

Será na casa branca desse sonho

Que esperarei a hora de voltar.

 

 

 

 

 

 

 

 

Quem é você?

 

— Quem é você que alimenta

A inspiração deste verso?

E que traz todo universo

À minha mente dorida?

— Que me faz correr o sangue

Nas veias, vasos, artérias,

E dá riquezas, misérias,

Mas pela morte é vencida?

 

— Chamo-me vida.

 

— Quem é você que apavora,

Que assusta até nos sonhos

Com olhos fundos, medonhos,

E a foice que anseia o corte?

— Quem é você, tão sinistra

Que nem a vida respeita

Numa nefanda colheita

Que decide nossa sorte?

 

— Chamo-me morte.

 

— Quem é você que à morte

Já roubou desenganados?

E é sempre dos desgraçados

A última na lembrança?

— Quem é você, diga afinal,

Pois dos fracos não se esquece

E mostra ao que padece

Que quem espera alcança?

 

— Chamo-me esperança.

 

— Quem é você que a todos,

Esperança, morte, vida,

Sempre chama de querida

Trazendo ao mundo mais cor?

— Quem é você que ampara

Ou chora pela saudade,

Traz carinho, amizade,

Riso, mágoa, pranto ou dor?

 

— Chamo-me amor.

 

 

 

Noite solar

 

O sol, que aquece o corpo

Nessa pedra ao pé do rio,

Ele também vê a fome,

Miséria e desvario!

E que ilumina a terra

E vê guerras sem motivo,

Assiste a dor e ódio,

Permanece compassivo,

Se escondendo no poente

Traz a noite sobre a gente.

 

Mas agora é de manhã

Raios brincam sobre a flor.

O sol ontem odiava

E hoje nos traz amor.

Traz cantar dos passarinhos

E esperança que cresce.

O sol que escondeu-se à noite

Agora nos traz a prece.

E a vida nos conduz

Ao sol, benção de luz.

 

 

 

 

To be, not to be or may be?

 

Encontros e desencontros...

Ideológicos?

Psicológicos?

Fisiológicos?

Lógicos?

Ilógicos?

Disseram-me que o mundo é uma bola:

Piramidal?

Cúbica?

Prismática?

Será uma questão de informática?

Pragmática? Sem tática?

 

Vivemos em um mundo com ‘puta dor’

Que pretende ser computador.

E prevemos a chegada:

Do calor do megaton,

Do horror do armagedon,

Do pavor entre nações...

Mas não há amor nos corações.

 

Vai dar p’ra ser feliz? Oh, sim! Dá.

Mas não sabemos como chegar lá!

Dívida externa,

Convulsão interna,

Um país moderno que ama o inferno!

Ministros sinistros,

Governadores sem pudores,

Presidentes incompetentes...

...peguei um povo na casca do ovo...

 

Para nosso consolo

Podemos ver a TV

E assistir em um segundo

O início e o fim do mundo!

Com o click-click na mão

Na mesma programação.

Será que não?

Que confusão!

 

Um gato fala inglês e um sapo ouve...

Um sábio japonês diz que confrei não é couve...

Oh, meu Deus! Que será que houve?

 

Entrega-se fantasma em domicílio,

A AIDS assola a humanidade,

A mulher que quiser ter filho

É o laboratório que dá a paternidade.

Será verdade?

Inconseqüência?

Indecência?

Incongruência?

Paciência! É assistir ou dormir!

E temos um BBB para curtir, e curtir, e curtir...

 

E no cinema? A imagem da bobagem impera!

É o reino da sacanagem! Nova era?

Quem dera que não fora!

O sexo explícito

Está implícito

No contexto do texto;

E é pretexto

Para trazer pelo cabresto

Uma horda sedenta de emoções

Que se masturba nos saguões.

São mocinhos ou vilões?

Nada! Apenas bobalhões!

 

O casamento é um fato

Que no ato gera um feto

E também um desafeto.

A sociedade moderna o condena...

Que pena! E os filhos?

Nem adianta tentar...

Já foi eleito falido,

Não tem jeito

Nem sentido!

Quanto tempo perdido!

 

Arte agora é palavrão! Como não?

Tem que haver compensação!

Se o povo gosta

De ouvir bosta

Então bosta neles pessoal!

Que tal?

Isso ainda acaba mal

E não é normal.

É uma antítese da tese

Do pragmatismo moderno,

Hodierno, do inferno...

 

Capitalismo,

Comunismo,

Socialismo,

Nacionalismo

E o país caindo no abismo!

Linha dura? Que loucura!

Democracia? Fantasia!

Presidencialismo? Continuísmo!

Legislativo? Inativo!

Deputado? Censurado!

Senador? Aproveitador!

Político? Paralítico; fóssil megalítico!

 

Que fazer grito eu, que fazer?

Talvez nada, é viver ou viver.

Ainda bem que eu posso escrever.

Vou criticar tudo um pouco,

Até ser chamado de louco.

Se eu gritar fico rouco.

 

Agora me vou embora:

Fique com Deus junto aos teus.

Pois é! Quem sabe?

Adeus!

 

 

 

 

 

Verdades que eu precisava ouvir

 

Verme que te arrastas pela lama,

Tens tempo, reacende a velha chama.

Onde o brado retumbante do guerreiro

Se choras a sorte o tempo inteiro?

Porque o lamento desta hora?

A vida é eterna, não acaba agora.

Joga fora coisas que consomem,

Mostra ao mundo que tu és um homem.

A vida passa! Verás que a prova

É a dor que redime e renova.

Porque a dor que agora te padece?

Nasce de novo... expande... cresce...

Na fonte infinita tens sabedoria

Que explicam nossa dor e agonia.

Trabalhar é um santo remédio,

Que revigora matando o tédio.

Pedes amor de quem te é caro?

Aplica o teu onde seja raro!

E o sol brilhará no horizonte

Trazendo a luz, dourando o monte...

Veja bem o exemplo de Jesus:

Com amor carregou a sua cruz...

Siga com ele o teu caminho

E nunca mais estarás sozinho.

Que conforto é a sede de saber!

Formar a uns... Com outros aprender...

E entenderão os que te ouvirem

Tua vivência ao que sentirem.

Confia em Deus, o supremo amor

Que cura o desencanto e a dor;

Cicatriza uma funda ferida

E dá bênçãos para uma nova vida.

Viva bem pertinho da verdade,

Cultive uma grande amizade,

E como um viajante cansado

Repouse num leito bem forrado.

Ergue a tua cabeça e segue

O porvir, mas a derrota negue.

Pois se és forte peço-te paciência

E durma em paz com a consciência.

II

Não te preocupes, não sejas fatal

E dos males queiramos o menor;

Talvez do caos que te trouxe a dor

Surja a fênix das cinzas, afinal!

 

Não queiras tomar tão de repente

Posturas de coração amargurado.

Pensa e veja que ao teu lado

Dependem de ti, de ti somente.

 

Siga no barco com a corrente

Mas não soltes o leme junto a ti.

Uma pedra cá, um recife ali,

Estorvam o rumo da vertente.

 

E a força que dizes possuir?

São verbos que acaso valem nada?

Faz da vida a tua namorada

E tenha esperança no porvir.

 

Sabes do que mais? Em teus anseios

Escuto os gemidos da paixão.

A busca dum sofrido coração

Para abrigar-se em outros seios.

 

E encontrar numa outra alma

Algo que te acalme pensamentos.

Ânsia fugaz, apenas linimentos,

Mas sufocam a paz e a calma.

 

Porém a paz não será tardia,

A calma vem após a tempestade.

Mentiras não vencem a verdade,

Passa a noite e raiará o dia.

 

 

 

 

Arco-íris

 

Um raio de sol nascente

Bateu na gota pequena

Que estava sobre a flor.

E a vida iridescente

Desmanchou-se serena

Num arco-íris de cor.

 

Passou pela minha mente

Que a natureza é um poema

Onde mais lemos o amor,

Mas o coração da gente

Vive entrando no esquema

De violência e dor.

 

Passa a vida de repente

E vemos que vale a pena

Orar com fé e fervor

Para que um raio nascente

Afague a gota pequena

Do coração sofredor.

 

E passe daí p’ra frente

A mostrar-se nessa cena

Com pouco mais de calor,

E forme uma corrente,

Fraternidade amena,

Liberdade, por favor...

 

Obrigado sol nascente,

Sem ti e a gota pequena

Não veria esse teor,

Mas já estou no poente

E nem sei se vale à pena

Viver ou morrer de amo

 

 

 

 

Insônia e solidão

Como é ruim estar sozinho,

Como o tempo passa lento,

Como é comprido o caminho,

Com dói o pensamento...

 

Pois o corpo está cansado

E os olhos têm muito ardor

Quando eu acordo assustado

E encharcado de suor.

 

Faço uma prece segura

Para se feliz também.

Se o pranto uma noite dura,

De manhã o riso vem.

 

Quem sabe talvez um dia

Chegarei a ser feliz!

Talvez eu me torne guia

E deixe de ser aprendiz...

 

Enquanto não amanhece

E a noite se vai passando

O meu corpo só padece

E, sem sono, vou rolando.

 

 

 

 

Meninos, eu vi!

 

Feliz borboleta

Saia das matas

Levando nas patas

O pólen das flores;

Alegre  casal,

Corujas noiteiras,

Depois de canseiras

Falavam de amores.

 

Da árvore adulta

Caía a semente

Que o vento contente

Levava em seu véu;

Da copa mais alta

Veloz passarinho

Deixava seu ninho

Em busca do céu.

 

Taboas do brejo

Curvavam macias

Levando bons-dias

Às águas serenas.

E dois beija-flores

Alegres, vivazes,

Beijavam lilases,

Jasmins, açucenas...

 

A flora e a fauna

Casavam felizes

Trazendo matizes

Ao sonho mais lindo;

Os campos, as matas,

As pedras da fonte

Uniam a fronte

Chorando e sorrindo.

 

 

 

Estou vivo!

 

Ah, vida, beleza, maravilha!

Sentado ao sol, olhando a natureza

Sinto-me Dirceu sem ter Marília,

Um rei que não tem a realeza.

 

E os anos deixados na loucura,

Procurando amor e carinho?

Sempre tingidos pela amargura

Na busca eterna do caminho.

 

Mas vou acordar e ver à frente

Dias mais felizes e risonhos.

Levantar-me querendo ser gente

E viver com ideais, tendo sonhos...

 

Talvez o amor adormecido

Que não passa de uma lembrança,

Mostre o tempo que não foi perdido,

Pois, no fundo, sou uma criança.

 

Já sei do que preciso agora

Para voltar de novo a viver.

É bom sentir que chegou a hora...

Dar a volta por cima... renascer!

 

Quero reviver, quero a promessa

De ter felicidade em volta!

E mudar de vida bem depressa

P’ra banir de vez essa revolta.

 

Quero chupar as frutas maduras

Postas no pomar da existência.

Esquecer das noites tão escuras

Cheias de medo e de carência.

 

E ter uns olhos bem carinhosos

E a bênção de um lar à espera.

Fazer novamente radiosos

Dias de eterna primavera.

 

E sentir das mãos de minha amada

Um afago gostoso no rosto;

Sentir que a vida é bela e nada

Abate um homem bem disposto.

 

Sentir na folha verde da plantinha,

A inspiração que me vem em verso.

Qualquer vida valerá a minha!

E a minha vale a do universo.

 

 

 

 

Escutando a razão

 

Já gastaste na procura,

Na agrura,

Que a vida te propiciou,

Momentos talvez felizes

Com raízes

Num tempo que já passou.

 

Mas deixa todas as mágoas

Pelas águas

Do rio que corre ao mar

Espera que a esperança

Já avança

Nas vozes do teu cantar.

 

Repara: todos os meses,

Muitas vezes,

Surgem oportunidades.

Se não tiveres atento

No momento,

Só verás passar idades.

 

É preciso ter coragem

Na viagem

Que damos por este mundo;

Nem na estrada do amor

Ou da dor

Voltar-se-á um segundo.

 

E na chegada da morte

Seja forte,

Pois a morte é passageira;

Bem pior do que morrer

É viver

Lamentando a vida inteira.

 

 

 

 

Ah, Saudade!...

 

Saudade que já conheço

E vive perto de mim;

Saudade, amargo começo

Do amor que chegou ao fim.

Saudade, criou raízes

E nos tornou infelizes

Pelos caminhos que andou.

Uma chama sempre acesa,

Arde com dor e tristeza

Pelo sonho que acabou.

 

Saudade lembrança de amor,

Começo de solidão;

Um arco-íris sem cor,

Uma esperança no chão;

Uma dor profunda e forte

Talvez pior do que a morte

Porque mata aos pouquinhos;

É dor que dói à distância,

É perfume sem fragrância,

É o amor sem seus carinhos.

 

É querer a todo o instante

Um alguém qu’inda  se ama;

Um sobressalto constante,

Uma voz qu’inda nos chama.

Pois saudade só se sente

De alguém que deixou na gente

Um profundo querer-bem;

E apesar do sofrimento

Que sinto nesse momento

Amo a saudade também.