Dias D’Ávila, 16 de fevereiro de 2013.
Meu caro Gilson,
Recebi o artigo que você me enviou escrito pelo Justino em outubro do ano passado. Confesso que fiquei envergonhado, não comigo que nenhum motivo tenho para tal, mas com a atitude medíocre e, porque não dizer, doentia desse moço que se outorga dono da verdade e xerife de Dias D’Ávila. Não farei menção a qualquer trecho da ladainha justiniana, visto já ter sido postada no facebook e estar lá para quem quiser ter acesso.
Confesso que poucas vezes em minha vida percebi ódio tão profundo como o que ele nutre pela minha pessoa! E sinceramente não consigo entender o motivo para todo esse ódio, a não ser o fato de ter eu participado ativamente da emancipação de Dias D’Ávila e ele não! Que culpa eu tenho se ele sempre preferiu fazer política em proveito próprio, já que seu sonho — confessado a mim sobre a laje de sua casa em construção — era ser prefeito? E isso foi o que ele tentou em detrimento de benefícios que a cidade pudesse auferir. Note-se o oportunismo dele no dia da proclamação da vitória no plebiscito, quando tomando o microfone, declarou-se candidato. Nada, fosse ser humano, cidade ou obstáculo que atravessasse seu caminho seria capaz de impedi-lo! Os empecilhos foram sumariamente descartados por ele; o Nilo atreveu-se a tentar e conseguiu juntar uma boa equipe, mas foi atropelado pelo rolo compressor que passou por cima de toda e qualquer ética para tornar seu sonho realidade. A convenção do PMDB, em 1985, que escolheu o candidato a prefeito, confessado pelo próprio secretário, o saudoso Oswaldo Sobrinho que por causa do acontecido deixou o grupo, a votação foi uma farsa. Apagaram a luz e sumiram com a urna! Quando regressou a iluminação a urna apareceu diferente, dando a vitória a Justino apesar da maioria dos convencionais ter-se declarado a favor de Nilo! A história até hoje, para a maioria do povo, permanece muito mal contada. Graças a Deus ele não conseguiu se eleger. Ayrton venceu com sobras: mais do que dobro da votação que ele obteve.
Não gostaria de me alongar muito, mesmo porque os ataques que ele desfere contra mim não me atingem em absoluto, até mesmo porque, notoriamente apesar de seus protestos, tenho muito mais história em Dias D’Ávila do que ele, pois resido aqui há quarenta e dois anos. Quando cheguei, talvez ele fosse apenas um menino que chupava o dedo e esfregava uma fralda no nariz agarrado à saia da mãe, no mercado municipal. Quanto ao fato de eu não ter nascido na cidade é mais um argumento a meu favor, pois lutei sem a obrigação de ser filho da terra enquanto ele, sendo filho da terra, se omitiu; participei por opção, para viver em uma cidade que elegi como minha e que me acolheu e retribuiu dando-me o título de cidadão pelos serviços prestados a ela. Isso é muito mais digno do que as atitudes xenófobas, discriminatórias e preconceituosas que ele propaga e profere contra “estrangeiros”. Ora veja só! Cheguei em 1971 e a cidade não tinha mais de três mil habitantes; juro que não me lembro de nenhum garotinho chamado Justino!
Lembra quando começamos a campanha pela emancipação de Dias D’Ávila, em 1978? O Justino não morava aqui! Diz ele que estava na Marinha! Chegou às vésperas do plebiscito e pegou o bonde andando, não participou a não ser em uma ou duas reuniões trazido pela professora Altair e quis transformar a luta idealista em política partidária, separando tudo em MDB (mocinhos) e PDS (bandidos); e como não conseguiu porque não existia MDB nem PDS, mas apenas PDD (Partido de Dias D’Ávila) deitou sua verborreia contra os participantes da Sociedade Amigos de Dias D’Ávila como, aliás, é o seu costume. Afastou-se por si só e nada fez pela cidade da qual se diz filho. Após a emancipação quando perdeu o pleito eleitoral para Ayrton, foi-se embora para Camaçari e depois Ibotirama e nunca mais residiu na cidade.
O Justino parece ter graves problemas psicológicos. Ele não consegue argumentar e apresentar suas opiniões sem o recurso fútil da ofensa. Certa vez, lá pelos idos de 1986, escreveu um panfleto bastante ofensivo ao doutor Mozart Pedroza e à professora Altair da Costa Lima. Precisei dar-lhe através do jornal (ver O IMBASSAI número dois) uma resposta contundente. Agora, como é detentor do poder, volta a assestar sua metralhadora giratória com a mira apontada para mim. É patético.
Isso, meu caro Gilson, faz-me lembrar La Fontaine com a fábula do lobo e do cordeiro que transcrevo abaixo:
Um cordeiro estava bebendo água num riacho. O terreno era inclinado e por isso havia uma correnteza forte. Quando ele levantou a cabeça, avistou um lobo, também bebendo da água.
— Como é que você tem a coragem de sujar a água que eu bebo? — disse o lobo, que estava alguns dias sem comer e procurava algum animal apetitoso para matar a fome.
— Senhor — respondeu o cordeiro — não precisa ficar com raiva porque eu não estou sujando nada. Bebo aqui, uns vinte passos mais abaixo, é impossível acontecer o que o senhor está falando.
— Você agita a água — continuou o lobo ameaçador — e sei que você andou falando mal de mim no ano passado.
— Não pode — respondeu o cordeiro — no ano passado eu ainda não tinha nascido.
O lobo pensou um pouco e disse:
— se não foi você foi seu irmão, o que dá no mesmo.
— Eu não tenho irmão — disse o cordeiro — sou filho único.
—Então foi alguém que você conhece ou algum outro cordeiro, um pastor ou um dos cães que cuidam do rebanho, e é preciso que eu me vingue.
E ali, dentro do riacho, no fundo da floresta, o lobo saltou sobre o cordeiro, agarrou-o com os dentes e o levou para comer num lugar mais sossegado”.
Veja bem, Gilson: O ódio dele por mim respinga em você e no Muricy porque somos, realmente, os remanescentes da luta pela emancipação da cidade, quer ele queira, quer não, apesar do “jus esperniandis” que ele adota em seus devaneios. Quando digo remanescentes é porque, junto com o Mozart, com o Lucas, com a Altair, com a Laura Folly, o Flavio, o Mário Padre, o Ezequildes e outros, a maioria falecida ou fora da cidade definitivamente, nós trabalhamos duro durante mais de cinco anos para criar as condições e conseguir o objetivo alvo e não apenas um dia como ele fez e quer que tenhamos feito. Ele também odeia a Sociedade Amigos de Dias D’Ávila porque tentou tomá-la de assalto da mesma forma com que fez com a urna da convenção do PMDB em 1985, mas não conseguiu. Fico com vergonha por ele... e também com pena, pois eu tenho que aturá-lo apenas esporadicamente, enquanto ele precisa se aturar vinte e quatro horas por dia. E o pior, olhar-se ao espelho e ter que começar o dia brigando com ele mesmo.
Nós sabemos caro Gilson, que por nós existe um livro de atas de reuniões públicas a provar nossa participação por todo esse tempo. E por ele? Existe algo que comprove sua participação a não serem as suas falácias?
Quanto aos meus livros que ele teima em desprezar (Sugere-me a fábula “A Raposa e as Uvas”, de Esopo), podem ser bons ou ruins, depende do gosto dos leitores. Felizmente até agora só tive uma crítica ruim: a dele, o que me deixa feliz! Estaria preocupado se ele tivesse elogiado... De qualquer forma vendi mais de mil exemplares, o que me rendeu cerca de oitocentas menções no Google. Na verdade são três romances lançados por uma editora séria e competente que me adotou para o pesar dele, e ainda tenho mais um no prelo e outro em fase de acabamento; e, como ele mesmo gosta de dizer para se exibir, livros grossos com letra miúda; e sem figuras!... Tenho um site que já recebeu mais de duas mil visitas e dois blogs. Ele possui um blog na internet sem sequer um comentário!... Mas deixa isso para lá... o meu objetivo não é, nem de longe, comparar-me a ele.
Na verdade Gilson, eu estou lhe escrevendo para um desagravo à memória da Sociedade Amigos de Dias D’Ávila que não pode ser manchada pelo comentário ridículo de algum psicopata de plantão. Certamente daqui a algum tempo ele abrirá fogo contra seus atuais companheiros. Faz-me lembrar da história do escorpião que era salvo das águas pelo monge e, quando se via em segurança, picava-lhe a mão... E o monge, quando indagado porque continuava ajudando aquele animal ingrato, respondia: — “A minha natureza é salvar e a dele picar”.
Quanto à grotesca fantasia engendrada por ele, essa sim, distorcida da realidade e baseada apenas na artimanha da política partidária que ele emprega — ingrediente que não faz parte absolutamente do meu cardápio —, onde os inimigos de ontem se beijam como heróis de hoje, basta-me o reconhecimento das pessoas que correram em minha defesa emprestando-me a solidariedade que tanto me gratificou. Você sabe como ninguém da luta surda, árdua e, às vezes inglória durante anos a fio e, finalmente conseguir para Dias D’Ávila um lugar ao sol. Hoje a história da emancipação que escrevi sem qualquer interesse a não ser relatar os fatos como realmente ocorreram, faz parte da Wikipédia e é ensinada nos bancos escolares do município. Agora talvez não seja mais, pois é hábito de alguns indivíduos que ascendem ao poder mudar a história para passagens mais convenientes, embora não verdadeiras.
Caro amigo velho de tantas lutas importantes: Quantos poderão dizer que tem a consciência tranquila como nós? A história esta aí; não tiro e nem acrescento uma vírgula. E tem mais: faço um apanhado histórico desde os primórdios e quem quiser ter acesso a ela na íntegra, visite o meu site na rede internet, no endereço https://fergicavalca.no.comunidades.net e curta bons momentos literários, contos, sonetos e outras informações valiosas. Lá está a explicação do porque Dias D’Ávila não pode ficar com a orla; mas quem não participou do processo não pode saber dessas coisas e, por isso fala bobagem.
Outro dia postei no facebook uma foto que fazia parte do meu acervo na época em que fui proprietário do jornal “O IMBASSAI”; ela mostrava uma reunião da Sociedade Amigos de Dias D’Ávila na Câmara, se não me engano comemorativa pelo primeiro aniversário da emancipação. Na foto estão Mauricio Bacelar e Waldy Freitas em primeiro plano. Eu e Mozart, que aparece discursando, em segundo, e ainda Armando Damit (de frente), Antonio Correia e Mario Padre (de costas). Acredite você que o Justino fez um comentário na foto dizendo que o Waldy era ele que estava presente ali, naquele evento! O pobre nem se reconhece mais... Pode? E ainda quer saber da história do município! Será Alzheimer?
Por isso Gilson, eu termino esta missiva com o seguinte comentário: “Ora senhor Justino, vá catar coquinhos”!
Um abraço e lembranças a todos.
Fernando Gimeno
(Fergi Cavalca)
PS
Pode usar desta como melhor lhe aprouver. Eu acho que vou seguir o exemplo do Justino e torná-la pública.
Fergi